O jornalismo investigativo é uma prática essencial para a transparência e a democracia, mas também uma das mais arriscadas. Expor ilegalidades, corrupção e abusos de poder coloca jornalistas em perigo, especialmente em países com baixa liberdade de imprensa ou altos índices de violência. Apesar de indispensável para que a sociedade tenha acesso a informações críticas, o jornalismo investigativo enfrenta riscos que vão de ameaças à integridade física a pressões judiciais e financeiras.
Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), em 2023, o Brasil ocupava a 110ª posição no ranking de liberdade de imprensa, refletindo um aumento na pressão sobre jornalistas e um risco crescente de represálias. No último ano, a RSF relatou 57 assassinatos de jornalistas no mundo, a maioria ligada a investigações de crimes organizados, corrupção ou abusos de direitos humanos.
Um caso recente foi o do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, assassinados em 2022 na Amazônia enquanto investigavam pesca ilegal e tráfico de drogas. O caso destacou a vulnerabilidade de jornalistas em regiões sem proteção governamental e expôs a falta de segurança para profissionais que trabalham longe de centros urbanos.
Além da violência física, jornalistas investigativos enfrentam riscos legais e financeiros que podem inviabilizar seu trabalho. No Brasil, processos por calúnia e difamação, os chamados SLAPPs (processos estratégicos contra a participação pública), são usados para intimidar jornalistas e dissuadi-los de investigar certos temas. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou cerca de 1.400 processos desse tipo em 2022, o que prejudica a liberdade de expressão e a busca pela verdade.
A pressão financeira é outro desafio, pois investigações custam caro, e muitos veículos, especialmente os independentes, têm orçamentos limitados. Em algumas situações, jornalistas atuam sem o respaldo de um grande veículo, o que aumenta sua vulnerabilidade. Investigações profundas exigem recursos, equipes treinadas e, muitas vezes, deslocamentos: custos que veículos menores só conseguem cobrir com financiamento externo ou público.
Diante desses desafios, cresce o papel das ONGs e dos financiamentos coletivos, que ajudam a viabilizar investigações importantes. Iniciativas como a agência ProPublica e a Abraji atuam para apoiar jornalistas com suporte financeiro e jurídico, possibilitando a continuidade de trabalhos de interesse público.
O jornalismo investigativo expõe o poder e questiona quem age sem transparência. É fundamental que a sociedade civil reconheça o valor desse trabalho e apoie iniciativas que o protejam. Somente com suporte coletivo e uma legislação que assegure segurança e liberdade de imprensa será possível mitigar os riscos desse setor e garantir que a verdade prevaleça.
Interessados no tema podem acompanhar o episódio do podcast Midiatize da Uninter sobre o assunto no dia 29/11 às 15h, no canal do YouTube SuperMidiaUninter.
*Letícia Porfírio é graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, mestre em Comunicação e Linguagens, doutoranda em Comunicação e Linguagens e professora do CST Marketing Digital na Uninter.
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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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